Sequestro de amigdalas



Tenho estudado sobre muitos assuntos e me deparei com um que afeta a vida de todas as pessoas, mas quase ninguém percebe sua importância: sequestro de amigdalas. Não se trata de uma ação criminosa visando o resgate de uma glândula do corpo humano. Trata-se das reações impensadas e mutãs vezes explosivas que as pessoas em um momento de raiva, onde dizemos ou fazemos coisas além dos limites que, em casos estremos, podem facilmente terminar em tragédia.
Pois bem, o cérebro humano com frequência é palco de um tipo de sequestro, que é a palavra utilizada para designar aquele momento em que a razão é superada por uma forte emoção em uma situação de grande dificuldade. Quando a razão recupera o controle, instantes depois, o estrago pode já ter sido feito.
Muito antes de o neocórtex surgir e definir o homem como um “ser pensante”, outras partes neurais já existiam, cumprindo funções de sobrevivência, tanto do indivíduo quanto de sua espécie. Sobre o tronco cerebral, responsável pelos instintos mais básicos formou-se o Sistema Límbico, o que dotou nosso ancestral de uma novidade: emoções. E foi dele que evoluiu o cérebro pensante – o neocórtex. Essa história tem pelo menos trezentos e cinquenta milhões de anos, contando a partir da era dos répteis.
Esse sistema cerebral primitivo se desenvolveu para aumentar as chances de sobrevivência do homem primitivo em desvantagem física em relação aos outros animais em um mundo hostil, onde a regra era fugir ou agredir, diante de um perigo iminente. O ser humano ainda não era um ser pensante e eram praticamente instintivas suas reações.
O problema surgiu que o homem evoluiu, mas este cérebro primitivo continuou a exercer influencia sobre suas atitudes. Se antes o perigo era físico e real, no mundo moderno situações de estresse emocional também passaram a ser interpretadas por este cérebro primitivo como outra forma de perigo. E as reações também podem ser agressivas e até violentas, já que este cérebro não tem as limitações que o neocórtex impõe aos nossos excessos nos atos impetuosos. Quando a pessoa para pensar nas barbaridades que disse ou fez, poderá ser tarde para pedir desculpas ou reparar o mal que causou por deixar-se levar por atitudes furiosas.
Quando alguém diz “conte até dez” está na verdade utilizando uma metáfora. O que realmente está querendo dizer é “pense antes de responder” ou “não se deixe dominar pela raiva”, ou ainda “não estrague tudo deixando a amigdala responder por você, pois ela não conhece todo o quadro, só a pincelada do perigo e do ódio”.
No mundo animal, a vítima é o bicho lento que não controla os movimentos. No mundo humano, a vítima é a pessoa rápida que não controla as palavras. Kant uma vez disse que a paciência pode ser a fortaleza para os fracos, assim como a impaciência pode se transformar na fraqueza dos fortes.

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